SINOPSE
Adolescentes do sul da Europa, em tempos de crise económica, garantem que não acreditam numa vida dividida em dois: antes e depois da crise. Por isso, recusam-se a pagar uma dívida da qual não se sentem responsáveis. Adolescentes em fim de festa, criados como estrelas a viver acima das suas possibilidades. Adolescentes que se sentem enganados. Adolescentes que aprenderam que o dinheiro é lixo e que as suas vidas nunca deverão ser medidas pelo dinheiro. Adolescentes cujos avós lutaram em guerras, estavam a favor ou contra alguma coisa. Adolescentes cujos pais cederam ao conformismo e à aceitação passiva de uma vida determinada pelo ter em vez do ser.
O autor galego Pablo Fidalgo Lareo criou para o projeto PANOS – palcos novos palavras novas da Culturgest, uma espécie de assembleia íntima com Só há uma vida e nela quero ter tempo de construir-me e destruir-me. A peça é uma paisagem que qualquer um pode reconhecer. Palavras que convidam a estar calmo, a sussurrar, a falar olhando nos olhos, a dançar suavemente. Palavras que questionam a educação, o presente. Palavras que podem purificar os corpos e devolver-lhes a sua pureza e o seu pecado original. Um manual de instruções para ser credível e para mudar o sistema a partir de dentro.
Escrito sob a forma de um longo poema sem personagens, onde todos os atores representam o adolescente na Europa do século XXI, o texto propõe uma profunda e intensa reflexão sobre uma civilização que parece começar a esquecer-se dos valores construídos após a 2ª Guerra Mundial, cedendo à inexorabilidade do capitalismo enquanto aspiração e forma de ascensão na hierarquia social. A encenação é minimalista: todos os atores estão em palco, assumindo-se como narradores e como coro. O público é recebido por um trovador/rocker que os incentiva a ousar ter uma posição sobre o mundo. Daí o ato simbólico (repetido ao longo da peça) de levantarmos a mão perante a possibilidade de podermos construir um mundo diferente, destruindo o vazio axiológico que, porventura, estará a minar uma outra hipótese de futuro.
Procuramos, assim, uma encenação que procura acentuar a tragédia num clima, por vezes cómico, de fim de festa. Acima de tudo, pretendemos criar um espetáculo que possa ser visto como um manifesto político que suscite a motivação para um pensamento sobre o mundo, assim como a vontade de sair para a rua com a ousadia de levantar a mão e reconstruir a vida.
Elenco: Ana Andrade, Ana Morim, André Vieira, Catarina Faria, Cátia Neves, Daniel Moreira, Inês Brandão, Joana Pinto Santos, Luís Marques, Sofia Ramos.